quarta-feira, 13 de junho de 2018

Bolas Incendiárias no Sporting

Bolas Incendiárias no Sporting


O que se passa no futebol do Sporting é um triste, mas excelente, “caso de estudo” para várias ciências (Direito, Sociologia, etc) e também para meditação e ação dos muitos agentes ligados ao futebol, desde adeptos, praticantes, treinadores, dirigentes, jornalistas, governantes, sistema judicial, etc. O que aconteceu na academia do clube, em Alcochete, é o corolário, lógico, daquilo que, há muito, se passa no futebol português, mas não só porque exemplos semelhantes ou até mais graves têm ocorrido noutros países, porque todos os responsáveis têm “assobiado para o lado”, como se o futebol fosse um “paraíso”. Se este é um “fenómeno de massas”, sem paralelo noutras áreas das sociedades, então as autoridades têm a obrigação de estarem atentas, para que não surjam casos como este ou outros bem piores, porque nalgumas situações têm ocorridas mortes. Por outro lado, muitos casos de corrupção e de economia paralela podem estar a ser praticados no “mundo do futebol”, levando assim alguns agentes a atos influenciados por esses interesses extradesportivos e, assim, o Estado é lesado económica e socialmente e a verdade desportiva ser questionada.


Qualquer cidadão, pode concluir que no futebol tudo é permitido, desde há muitos anos. Porquê? Por falta de coragem dos governantes ou porque também os políticos e os partidos se “servem do futebol” como forma de projeção pessoal e partidária? Então e na minha opinião de cidadão atento, na cúpula da pirâmide da responsabilidade pelo estado atual do futebol português, estão muitos daqueles que têm passado pelo poder, isto é, os governantes. Qual o governante ou governantes que ousam “afrontar” os milhões de fanáticos adeptos dos clubes? Como alguém disse, arriscar-se-ia a que as “pedras lançadas” lhe viessem a servir na sepultura. Por isso, afrontar o “mundo do futebol”, nem pensar.


O futebol há muito que tem sido fértil na intriga e na guerrilha, essencialmente, por quem tem o dever de não o fazer, porque deveriam saber que, ao desencadearem e alimentarem a guerrilha, estão a “lançar achas para a fogueira” provocando “incêndios” que depois têm dificuldade em controlar. Infelizmente, existe uma triste simbólica analogia com os incêndios nas nossas matas de tristes e dramáticas consequências, porque também ali a prevenção (incluindo a legislação e a punição) foram negligenciadas por todos os responsáveis diretos e indiretos.


Mas voltando ao “caso Sporting”, que poderia ter ocorrido noutros clube dos “chamados grandes” (Benfica, Porto, Braga, etc), são muitos aqueles, no Sporting, que criaram as condições para que algo pudesse vir a acontecer, embora nada, mas mesmo nada, justifique aquele acontecimento que entristeceu todos os adeptos sportinguistas e projetou, vergonhosamente, o nosso país por esse mundo fora e não apenas no “mundo do futebol”, porque aquele ato é muito mais do que um “ato futebolês”. Afinal, “num país de brandos costumes”, acontecem atos de “terrorismo”.


De facto, nestas últimas semanas, “bolas incendiárias” foram sendo trocadas entre jogadores, treinadores e o presidente do clube, tendo tudo começado aquando do jogo contra o Atlético de Madrid, com resultado desfavorável. O presidente veio a público, e através das redes sociais, criticar o empenho dos jogadores que, não gostando, responderam com algo semelhante. O treinador ficou entre dois fogos e não terá sabido agir como mandariam as regras dum “líder”. Ora, na minha opinião, todos têm culpa, porque: i) o presidente não deveria fazer aquilo, porque as críticas fazem-se “entre paredes” onde tudo se pode e deve dizer, com assertividade, porque estão em causa muitos interesses desportivos, económicos, pessoais, etc; ii) os jogadores, mal aconselhados ou não e também por força da sua imaturidade, não nos esqueçamos que a maioria são jovens adultos, não tinham legitimidade legal e laboral ou ético-desportiva para terem respondido às provocações do presidente; iii) o treinador ficou na corda bamba e também não agiu ética e desportivamente de forma correta. O “fogo” estava a arder e a queimar e após a derrota na Madeira contra o Marítimo, que impediu que a equipa atingisse o segundo lugar e a eventualidade de poder vir a encaixar vinte milhões de euros da UEFA, aumentou as labaredas. O “dia seguinte” (segunda feira e após o regresso do Funchal) aumentou a divisão entre as três partes (presidente, treinador e jogadores - melhor dizendo, duas partes contra uma), pelo que na vergonhosa terça feira, dia 15 de Maio, aquele grupo de ….(sinceramente não sei como apelidá-los - “terroristas do futebol?”; “marginais do futebol”, etc) , considerando-se impunes, porque os acontecimentos passados levavam as autoridades - desportivas, policiais, judiciais e governamentais - a “assobiarem para o lado” e a fecharem os olhos, julgaram-se no direito de serem atores dum filme que entriste os sportinguistas, em especial, e os portugueses em geral. Como é possível, perguntarão muitos? Mas, para quem esteve atento, tal ato não é surpresa. Poderiam ter tido consequências humanas bem piores, se os jogadores sequestrados e indefesos tivessem oferecido mais resistência aos invasores. Aliás, segundo relatos, os que sofreram mais consequências físicas, foram aqueles que reagiram aos “terroristas”. Infelizmente, mais uma vez se pode aplicar aqui aquele ditado popular de que “quem semeia ventos pode vir a colher tempestades”. Ou ainda: “depois de casa arrombada, trancas à porta”. Agora são muitos a verterem “lágrimas de crocodilo” e, tendo feito como Pilatos, são os primeiros a lamentarem-se, seja por vergonha, por tristeza ou mesmo por perdas significativas, desportiva e economicamente, porque a “novela” ainda não acabou e muitas bolas de fogo e incendiárias serão ainda lançadas para a fogueira. Louve-se a ação da GNR que consegui prender, para já, 23 “atores daquele filme de terror e de vergonha nacional” e que poderá ser o guião para que, no nosso país, se faça, finalmente, o filme de: “A limpeza das ervas daninhas do futebol português”, com rodagem das filmagens em vários cenários onde decorrem jogos e ações ligadas ao futebol e com muitos atores e figurantes. Haja coragem, porque o dinheiro envolvido no futebol é assustador e todos sabemos que o dinheiro é a fonte de muitos males do “homem”. Alguém, há muito tempo, disse que: - “o futebol é a coisa mais importante das coisas menos importantes” -, mas, infelizmente e pelos maus motivos, tem exercido uma forte influência na sociedade portuguesa, consumindo muitos recursos do erário público. Que mais no irá acontecer? Como sportinguista, estou profundamente triste, pelo meu Sporting e pelo meu país, e, embora “divorciado” deste atual futebol, gostaria de voltar a usufruir o prazer desse espectáculo, que já nem, habitualmente, na televisão vejo, porque o amor ao nosso clube não admite o “divórcio.


Serafim Marques

Lisboa, 17 de Maio de 2018

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Já não há pachorra, senhor Pinto da Costa



Mais uma vez, o senhor Pinto da Costa (PC), com a acutilância  que lhe é peculiar, veio criticar os responsáveis pela Federação Portuguesa de Futebol e desta vez também incluiu o seleccionador nacional Paulo Bento, pelo facto desta ter negociado a realização dum jogo amigável no Gabão entre a selecção nacional daquele país e a portuguesa. Argumentou que a escolha daquele jogo e naquela país, localizado no hemisfério sul e logo com um clima de Verão, bem como a distância de Portugal, prejudicou os jogadores e, consequentemente, os clubes que os cederam. Referia-se, obviamente,  ao seu clube, apesar deste ter apenas cedido dois jogadores, enquanto que, por exemplo,  o Sporting de Braga cedeu sete!
Como já o tem feito, voltou a invocar que a FPF realiza muito dinheiro sem pagar um tostão, isto é, serve-se dos jogadores dos clubes para fazer encaixes financeiros e constituir depósitos a prazo nos bancos . O senhor PC queixa-se e ataca a FPF, porque o seu “estatuto de papa do futebol português”  lho permite, até porque sabe que poucos ousam contestar as suas afirmações ou acusações. Mas não faz o mesmo com as federações nacionais de outros países e às quais o FCP cede também jogadores. Nesta semana, o seu clube cedeu cinco jogadores a selecções doutros países, porque, infelizmente para a selecção portuguesa, o FCP tem muito poucos jogadores portugueses no seu plantel principal. Outros clubes europeus terão mais razões de queixa do que o FCP.
Mas mesmo que o senhor PC tivesse moral para atacar a opção da FPF, é condenável que esta tente fazer encaixes financeiros, se todas as outras federações o fazem também? Afinal, quem financia a actividade duma extensa pirâmide que é o futebol nacional? São os clubes “grandes”, maioritariamente compostos por jogadores estrangeiros? Reparou o senhor PC de que a  federação espanhola deslocou a sua principal selecção ao Panamá, para fazer um jogo amigável também? E que a Argentina fez o mesmo (com um jogador do SCP e outro do SLB na equipa) deslocando-se à Arábia Saudita? E muitas outras selecções realizaram, neste mesmo período e  a meio da semana, jogos amigáveis?  É que a FPF não pode comprar jogadores noutros países, como fazem os nossos “grandes” e também não podem realizar brutais encaixes financeiros com as vendas, pelo que a FPF e outras,  têm que fazer um gestão financeira que lhes permitam ser sustentáveis.
Coitadinhos dos jogadores portugueses que são, mais fraquinhos do que os espanhóis, os argentinos, etc.  E o que dizer do papel ingrato do seleccionador Paulo Bento que têm cada vez mais dificuldades em fazer uma  boa selecção, por causa da “invasão” de jogadores estrangeiros, porque tem sido essa a  opção dos dirigentes dos clubes portugueses, em vez de apostarem mais nos nossos jovens. As equipas Bs, cujos efeitos positivos parece que já se estão a fazer sentir, são projectos para continuar ou é mais fácil ir ao estrangeiro comprar jogadores, pelo que o seu período de vida será curto?
Parece que nem os problemas cardíacos de que padece o senhor PC,  como eu e que lamento ao cidadão, lhe refreiam as acutilantes e sempre “venenosas” críticas a todos aqueles que não façam parte do seu universo de “yes men” . Já não há pachorra para ouvir esse senhor, mas até a imprensa lhe abre alas e lhe agradece a suas sábias e “autoritárias palavras”. Para mim basta, porque estou farto de ser “ofendido” pelo senhor PC. 

domingo, 17 de junho de 2012

No País da Bola, o resto é "paisagem"


Ciclista Rui Costa ganhou a Suíça



O ciclista português Rui Costa (Movistar) acaba de vencer a Volta à Suíça, em bicicleta, depois de ter conseguido manter a curta vantagem de 14 segundos sobre o luxemburguês Frank Schleck para a nona e última etapa. Ganhou a prova e liderou-a durante vários dias. A volta à Suíça é uma prova da “segunda divisão” do ciclismo internacional, mas isso não retira mérito ao ciclista português que já no ano passado ganhou uma etapa do mítico “Tour de France”.
Porque vivemos no “país da bola” e depois do Benfica, Sporting e Porto terem abandonado o ciclismo, que alimentava o fervor clubistico em periodo de defeso do futebol, este deixou de ter qualquer relevo na  nossa imprensa, mesmo a desportiva, com a excepção, que confrima a regra, da cobertura da Volta a Portugal e do “Tour de France”, mas nesta a “cobertura”depender do que a televisão internacional enviar para a portuguesa. A minha geração vibrou com os feitos heróicos de Joaquim Agostinho e de muitos outros, mas o interesse pelo ciclismo foi-se diluindo, com a “perda da clubite aguda”. É pena, porque é um desporto com as suas virtudes e espectacularidade. Ainda o ano passado, vibrei, instalado no meu sofá, com a heróica etapa da Serra da Estrela, num sobe e desce desde a Covilhã, Penhas da Saúde, Penhas Douradas e Torre. De carro, que fiz posteriormente, fica-se com a dimensão do esforço que os “herois do ciclismo” fazem.
Igual tratamento, pouco ou nenhum, é dado às restantes modalidades desportivas e mesmo que os “media” argumentem interesses jornalísticos, entenda-se “matéria que vende jornais e atrai sponsors”, não se compreende esse ostracismo, porque os atletas e os adeptos mereciam que fosse dado mais relevo a essas modalidades, algumas com maior sucesso internacional do que o nosso futebol. Ou esquecem-se disso? Por outro lado, contribuiriam para uma maior formação ecléctica dos portugueses, porque, infelizmente, a maioria só “vê” a bola e se for do seu clube. Veja-se, por exemplo, a atitude dos adeptos da equipa da República da Irlanda que apesar de estarem a perder por 4-0 com a Espanha, no Euro2012, levaram todo o jogo em cânticos. Que rica lição que deram aos “alienados” nacionalistas e clubistas portugueses e não só.